quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Carta de um vascaíno para Deus

Buenos Aires, 30 de outubro de 2008.

 

Prezado Deus,

 

Estou escrevendo para me unir ao abaixo-assinado que os santos estão fazendo para pedir ao Senhor que o Vasco não caia para a segunda divisão.

Tive acesso à folha de assinaturas, e fiquei surpreso com a quantidade de gente que já assinou. Também notei algumas ausências. Umas esperadas, outras nem tanto. Ah, tive a sorte de conversar com alguns dos santos que participaram do abaixo-assinado, espero que o Senhor não se aborreça de eu contar um pouco sobre o nosso papo.

Como não podia deixar de ser, a primeira assinatura é a de São Januário. São Janu disse que não gostaria de ser o estádio de um time da segunda divisão. Ele esteve conversando com São Jorge, e o santo guerreiro disse a ele que estar na segundona é duro. Sorte dele que em 2009 o Corinthians já estará de volta à elite do futebol brasileiro. São Jorge assinou o abaixo-assinado por solidariedade e porque o “curíntia” já ta garantido no brasileirão do ano que vem.

São Paulo não assinou. Ele disse que estava muito ocupado tentando fazer o time ser tri-campeão nacional e que não podia perder tempo com esse tipo de problema (não sei... deve ter sido por lembrança de um certo gol de Sorato, mesmo que ele não tenha admitido). Santo André também não assinou pelo mesmo motivo. Ele está muito ocupado com a segunda divisão e nem nos recebeu quando o procuramos. Já São Caetano não quis assinar por raiva do Vasco. Ele disse que depois daquela final da Copa João Havelange quer mais é enfrentar o Gigante da Colina na segunda divisão.

Os Orixás da Bahia também não assinaram. Eles disseram que preferiam evitar o sincretismo, e que já tinham muito trabalho com o Vitória e com o Bahia e com a imensa quantidade de oferendas que faziam com pedidos para esses times.

E o Santos liberou alguns de seus sócios para assinarem o nosso pedido. Disse que fazia isso para honrar os tempos em que jogaram combinados Vasco-Santos, onde Pelé usou a camisa da Cruz de Malta.

Agora, chegamos ao caso específico de São Judas Tadeu. Ele não só não assinou como fez campanha contra. Disse que como é flamenguista vai torcer para o Vasco cair. Achei uma injustiça, uma covardia, mas não esperava muito dele. Ele disse que ia procurá-Lo para tentar convencê-Lo a não nos ajudar.

Bem, Senhor, em nossa defesa eu só queria dizer uma coisa. O cara pode até ser Tadeu, mas não se esqueça de que ele também é Judas.

Um abraço,

I.R.


terça-feira, 28 de outubro de 2008

Bilhete-desafio para ouvidos sensíveis

Buenos Aires, 28 de outubro de 2008

Prezado,

se você tiver ouvidos sensíveis, não escute esta música. Vá direto para a segunda. Agora, se escutar, depois não diga que eu não avisei. Não vale reclamar depois.



Bem, se você não escutou a primeira, escute a segunda e curta a música, a melodia... Mas se os seus ouvidos permitiram escutar a primeira, tente escutar a segunda sem pensar na primeira.



E aí?

Um abraço,

I.R.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Bilhete para uma segunda-feira

Buenos Aires, 27 de outubro de 2008

Prezada,

normalmente é difícil te encarar a cada semana, quase sempre com a mesma cara. Você merece uma carta, eu sei... mas tá difícil... falta ânimo para escrever... acho que vou ver um energético...



Um abraço,

I.R.

domingo, 26 de outubro de 2008

Um pouco de história

Antes que eu fosse o Álvares Cabral;
Nos uraguais eu era o nosso Gama,
Antes Basílio e Vasco após a fama;
Era compadre e amigo de Pombal.

E da coluna PRESTES (cervical)
Fui serviçal, até que o Pedro chama:
Diz que sou Duque e nunca fiz sua cama,
Mas sou Pixote, humilde marginal.

Mas não roubei ninguém, sou Genebaldo,
Maria primeira, a louca, sem um laudo,
A mulher macho (sou rei do baião).

Da Paraíba trouxe esta senhora,
E remorri (Brás Cubas), vou-me embora
Ser Virgulino, Eterno Lampião.

I.R.

PS:

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Bilhete para um músico fisiologista

Buenos Aires, 22 de outubro de 2008

Prezado,

às vezes o único instrumento necessário é o próprio corpo. Sejamos sinceros, esse é um dos instrumentos mais complexos que conhecemos. E tirar música dele requer coordenação, musicalidade, esforço e, às vezes, força física. 



Um abraço,

I.R.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Carta para um vascaíno

Buenos Aires, 21 de outubro de 2008.

Prezado vascaíno,

Já sei que você está se considerando um sofredor. De fato, analisando o atual campeonato brasileiro e as possibilidades que temos... de cair para a segunda divisão, você é um sofredor. Digo, nós somos sofredores.

Cada um tem uma história que explica o porquê de nos termos tornado vascaínos. A mais comum é a herança familiar, a genética, ou paterna ou materna. Esse não é o meu caso. Sou filho de flamenguistas, por mais que eles rejeitem a palavra flamenguista. Eles dizem que são Flamengo. Com dois anos de idade eu vi uma camisa com a caravela e a cruz de malta e pedi ao meu pai. Ele, que sempre quis ser diferente, comprou a camisa para me agradar. Fiquei tão feliz que com dois anos de idade já tinha escolhido um time: o Clube de Regatas Vasco da Gama. A bem da verdade, depois ele até que me comprou uma camisa do Flamengo, mas já era tarde.

Nestes 31 anos de torcedor vascaíno, tive muitas alegrias e muitas tristezas também. Vi o Vasco três vezes campeão brasileiro, campeão da Libertadores, várias vezes campeão carioca, campeão da copa Mercosul, mas vice mundial duas vezes, vice na copa do Brasil, vários vices no campeonato carioca, o que me amaciou para ser vice. Já não me surpreende tanto e já não fico tão frustrado. Ser vice já se tornou coisa corriqueira. O Vasco, você se lembra, já foi tri-vice-campeão carioca.

Agora, estar em último, na lanterna do campeonato, com mais de 80% de chance de ser rebaixado é uma sensação nova para mim. E acho que para você também, amigo vascaíno. Espero que você saiba que isso é resultado de 20 anos de administração do Sr. Eurico Miranda, um dos cânceres do futebol brasileiro. Eurico Miranda é como Paulo Maluf, aquele que é conhecido como rouba, mas faz. O problema, meu amigo, é que depois as conseqüências aparecem, inevitavelmente. E para infelicidade nossa, a série B só bate à nossa porta agora com o Roberto Dinamite como presidente.

É triste, ridículo, vergonhoso, ver o Sr. Eurico Miranda se comportando como o poderoso chefão mafioso dando entrevistas e dizendo que vai acabar com o Roberto. Espero que você, vascaíno, não apóie essa truculência, essa postura de quem se sente acima do bem e do mal, essa violência tão peculiar aos ditadores.
Não aceite esse discurso euriquiano. E se a gente cair para a segunda divisão, que seja de cabeça erguida, pronto para dar a volta por cima, com um clube renovado, livre do câncer e da metástase. Talvez até nos faça bem essa terapia intensiva.

Um abraço e saudações vascaínas,

I.R.

PS: Pensei em continuar torcendo pelo Vasco, mas pelo Vasco da Índia. Só que isso serviria apenas para manter a coerência, já que o Vasco de lá também está em último no campeonato .

sábado, 18 de outubro de 2008

Qual é o melhor investimento?

Das duas uma:
ou o coloco embaixo do colchão
e guardo um pouco do que me resta.
Ou o coloco no banco
pra ver se rende.
Aceito sugestões.

I.R.



quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Carta para os professores

Buenos Aires, 15 de outubro de 2008.

Prezados professores,

Não há nada mais demagogo do que escrever para alguém em seu dia, não é? Mas como não sou político e luto nas mesmas trincheiras, esta carta não é fruto da demagogia, mas nasce do desejo de comemorar com todos vocês este nosso dia.

Sobre a profissão, confesso que não fui eu que a escolhi. Fui estudar letras por falta de opção, quando dei por mim estava em sala de aula, no início penando, depois gostando. Mas ninguém me enganou com propostas sedutoras e irrecusáveis de uma vida fácil, com salários astronômicos e mordomias.

Comecei a dar aula conhecendo as regras do jogo. E imagino que a maioria de vocês também.

Mas não aceitem essa conversa mole pra boi dormir de que ser professor é um sacerdócio e que não importa que as suas condições de trabalho sejam péssimas, que o seu salário seja baixo, que falte material, que, em alguns casos, faltem instalações decentes para vocês e para seus alunos. Você não é um sacerdote. Você é um profissional. E como profissional tem direito a ter condições de trabalho; e como cidadão tem direito a um salário digno; e como ser humano tem o dever de tratar bem o seu público. Afinal, trabalhar com o público não é nem nunca foi fácil.

O que é fácil, é descarregar todas as frustrações nos alunos, lançar no aluno os próprios recalques, sentir na nota vermelha o prazer da vingança, a negação transferida ao aluno do que muitas vezes lhe é negado, seja lá o que for. O que é fácil, é com a desculpa do salário baixo dar uma aula medíocre. E vocês sabem tão bem quanto eu que há muitos professores assim.

Não acredito que o professor ensine alguma coisa. Acho que o professor mostra o caminho das pedras. Na verdade, quem aprende é o aluno, senhor do processo de aprendizagem. Nós, no máximo, podemos ser facilitadores ou ´dificultadores` desse processo. E quase sempre nos tornamos exemplo para nossos alunos. Exemplos do que eles querem ou do que não querem copiar. Podemos influenciar positiva ou negativamente no pensamento de alguém, podemos ajudar a formar seres humanos críticos e pensantes ou podemos continuar fabricando robôs, pseudo-máquinas dotadas de obediência, não de inteligência. Massa de manobra.

Colegas, desejo a todos nós um excelente dia! E melhores condições de trabalho e melhores salários para todos. Mas, sobretudo, a consciência de que ao preparamos uma aula o mais importante não é a matéria em si, mas o aluno que vai recebê-la. Sonho com que um dia os professores todos seremos críticos mostrando o caminho das pedras de uma real transformação da sociedade, para uma mais humana, mais crítica e com menos desigualdades sociais.

Abraços,

I.R.

PS: Aproveito para agradecer a todos os professores que tive em 21 anos de carreira escolar. Aos que me mostraram o que eu queria e o que eu não queria aproveitar como modelo tanto profissional quanto pessoal. Muitíssimo obrigado.

PS 2: Sinto que essa carta pode ser desmembrada em várias...

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Bilhete para o inventor de feriados

Buenos Aires, 13 de outubro de 2008

Prezado,

há alguns meses te escrevi uma carta. Mas aquela carta ficou curta e foi superada depois da sua nova invenção.

Passar - com aprovação do congresso - um feriado (que até então era intransferível) de um domingo para uma segunda foi, se não a maior, uma das suas maiores conquistas.

Parabéns!

Um abraço,

I.R.

sábado, 11 de outubro de 2008

Bilhete para um tangueiro

Buenos Aires, 11 de outubro de 2008

Prezado,

você, como bom tangueiro, sabe melhor do que ninguém que para cantar tango não é necessário ser um rostinho bonito. É necessário alma, sentimento e, principalmente, uma Voz, assim, com V maiúsculo, para interpretá-lo.

Um abraço,

I.R.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Carta para os meus vizinhos

Buenos Aires, 08 de outubro de 2008.

Prezados vizinhos,

Desculpe-me desapontá-los, mas devo lhes dizer que vocês não são originais. Nestes 33 anos de vida já me mudei de endereço algumas vezes, mais ou menos umas 10. E o que se vê aqui neste meu endereço atual não traz muitas novidades... se bem que a história de ontem... bem, essa foi uma novidade no currículo dos meus vizinhos.

Vizinhos, lá no Arraial do Cabo, onde morei, tínhamos como vizinhos um casal que brigava todos os dias, boa parte da noite. Mas não era uma briguinha de discussão, palavrão, um “te odeio” para cá, um “vou embora” para lá. Um “filho da puta” dito naquela casa soava quase como elogio. E os pratos, os copos, tudo o que fosse quebrável voava e se espatifava naquela casa, onde a mulher chamava pela polícia a cada nova briga. Ou seja, toda noite. Até que um dia a polícia apareceu para prender o marido. E a mulher fez um escândalo para que não o levassem.

Aqui em Buenos Aires também tive um casal briguento como vizinho. Uma noite, parte do edifício acordou com a reclamação em alto e bom som da mulher: “- As coisas não funcionam assim, você sai por aí para beber, chega bêbado e quer meter (isso mesmo, meter) às três da manhã!”

Nesse mesmo edifício morou um casal coreano durante um tempo. Sobre as brigas deles não posso falar muito, pois discutiam em coreano e eu não podia entender nada. Para dizer a verdade, nem sei ao certo se estavam discutindo.

Em outro edifício, tive uma vizinha que “praticava” canto lírico. Não sei se estudava, fazia um bico com isso ou se realmente era a sua profissão. O que sei é que à tarde era muito comum ouvir um “ma, me, mi, mo, mu; ma, me, mi, mo, mu”. Nesse edifício também tive vizinhas que tentaram fazer um gato na minha TV a cabo e teriam conseguido se isso não tivesse interferido na conexão à internet, e se a Chichi não as tivesse assustado com chamar a polícia se isso voltasse a acontecer.

Então, meus vizinhos, que alguns de vocês sejam meio esquisitos não é um problema. Alguns, em reunião de condomínio me cumprimentam, depois passam por mim no corredor e, quando muito, me dão um pequeno rosnido. Tem uma que nos oferece a sua agenda sexual. Hoje sim, amanhã não. Hoje sim, a tal hora. A cama faz “nheque-nheque” e ela emite ruídos.

Agora, vizinho com cara de bobo, você sim me proporcionou uma novidade. Nunca tive um vizinho que aparecesse com uma prostituta no edifício e, com cara de culpado, não cumprimentasse ninguém. Principalmente porque, infelizmente, você sempre cumprimenta. Eu não vi a trabalhadora, mas me disseram que era um pouco feia. É o que eu digo, se vai pagar, pelo menos compra um serviço um pouco melhor, não é? Se bem que quem nasceu para Sidra, por mais que o Champanhe não seja muito mais caro, vai morrer tomando Cereser.

De qualquer forma, todos vocês são fichinha ao lado do “De Repente Bar”, meu vizinho durante poucos meses, lá no Arraial do Cabo, quando eu tinha uns 12 anos. Um bar numa rua residencial, com show ao vivo à partir da meia-noite. Na inauguração, às 4 da manhã me vi acordado, sentado na cama dos meus pais, ouvindo um cover do Wando cantar “Chora Coração, iê, iê, iê, iê, iê, iô”.

Esses vizinhos sim, acho que serão imbatíveis. Vocês ao lado deles são amadores.

Um abraço,

I.R.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Bilhete para um músico popular brasileiro

Buenos Aires, 6 de outubro de 2008.

Prezado,

sejamos sinceros algumas versões de músicas são "mais bonitas" do que outras. Como gosto não se discute, o que é mais bonito para mim, pode não ser para você. Então, não vou dar minha opinião. Deixo a você o trabalho de escolher por conta própria, e o direito de, inclusive, escolher as três.

Um abraço,

I.R.







PS: A ordem em que aparecem não é aleatória, representa a ordem em que conheci cada versão, não a minha preferência.

Outro abraço.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Do verbo tocar

Piano, cítara, gaita e violoncelo
Bongô, guitarra, sax, fagote e quena
Nem batera e atabaque, mas que pena
Não toco nada, em nada me revelo

Nem harpa, cavaquinho ou o que é mais belo
Um violão que domina toda a cena
Não toco e desconecto a minha antena
Nem assovio, a boca eu já congelo

E não toco sanfona nem charango
Violino e bandoneón para o meu tango,
Não toco berimbau nem pandeireta

Mas se não toco nada de instrumento
Garanto que não causa sofrimento
Não toco e não arranho de ranheta

I.R.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Segundo bilhete para um sambista

Buenos Aires, 1° de outubro de 2008

Prezado,

o passar do tempo às vezes só me mostra que as pessoas ficam mais velhas (ou mais gordas)... e mais nada... No caso dela, é como na propaganda "Você se lembra da minha voz? Mas os meus cabelos, quanta diferença!"

Tivesse Alcione nascido nos Estados Unidos e seria uma cantora de jazz mundialmente famosa. Mas cá entre nós, ainda bem que nasceu no Brasil e canta samba, não é mesmo?





Um abraço,

I.R.